Finalizamos a etapa do plantio das mudas do nosso Projeto Refloresta!
Com alguns dias de trabalho todas as mudas nativas saíram dos tubetes e foram espalhadas pelo terreno, estavam agora enfrentando o desafio de adaptação ao novo ambiente e suportando as oscilações do clima.
“Não é obrigação sua concluir seu trabalho, mas você não tem liberdade para abandoná-lo”
Ensinamento do Talmude
Uma verdade: acabamos uma etapa, porém longe da conclusão. Da nossa parte houve a responsabilidade de iniciar a recuperação da área e o esforço seguiu o que a consciência despertou. Sempre acompanhando o que sugeriam os homens que entendiam do meio ambiente.
Cumprimos todas as orientações recebidas e chegando nesta etapa do Projeto, acabamos por mudar o nosso conceito e passamos a respeitar os ideais e o papel dos que labutam no Ibama e demais órgãos em prol da proteção do meio-ambiente.
Estamos num país onde a consciência ecológica reside em núcleos isolados, lúcidos e lutadores, porém longe daqueles que lidam diretamente com as ambições terrenas, daqueles que pouca atenção dão ao futuro ecológico deste planeta. Tudo vale para produzir efêmeras riquezas pessoais. Derrubam uma árvore centenária, destroem um ambiente equilibrado deixando em algumas das vezes fiapos de capim no lugar antes exuberante.
No Projeto Refloresta seguimos as orientações técnicas e respeitamos os compromissos que firmamos com os órgãos ambientais. Fomos adiante, lamentando a existência daqueles que seguem com a motosserra insana e o fogo nas mãos, sem um planejamento, sem um cuidado maior e sem um pensar mais ecológico.
Fizemos o plantio de mudas nativas e contribuímos com nosso esforço. Cumprida esta etapa, cabe agora o respeito às leis da natureza, esperando o equilíbrio que ela própria irá conseguir ali naquele pedaço.
Temos consciência do limite da nossa ação. Daqui por diante o tempo será o senhor do futuro daquele pedaço.
Levamos no pensamento a verdade de que a posse daquelas terras estão de passagem por nós. Recebemos aquele pedaço de uma geração e logo mais adiante, outras mãos o tomarão para si.
Esse é o ciclo que vem desde que o homem povoou a terra. O “domínio” é temporário e o resultado do bom ou do mau uso da terra, fatalmente será herdado pelos descendentes.
Conosco apenas a certeza da clara verdade de que somos hóspedes e estrangeiros na terra: por mais que nos sintamos proprietários e onipresentes, o dono é outro, muito acima de nós, como diz a Torá.
Portanto, o que fizermos de bom, mais do que aliviar nossas consciências, representa uma pequena parte para transmitir um lugar melhor às gerações posteriores.
Pelo Projeto Refloresta, estão cravados os objetivos de recuperar o nosso temporário pedaço, oferecê-lo como exemplo e no futuro, às crianças das escolas de Floreal. Sinal concreto de que vale a pena lutar a favor da natureza.
Oferecer uma oportunidade para conscientizar as crianças acerca da necessidade de preservação do nosso maltratado meio ambiente. Mais do que informar, formar pelo exemplo. Esperar delas, no futuro, ações dignas de verdadeiros seres humanos conscientes.
Esses são os objetivos e os sonhos, mas cada coisa em seu tempo: primeiro dar uma chance à restauração ecológica, trabalhar e cuidar do plantio feito. Insistindo sempre e desistindo nunca.
Restauração Ecológica
As graves consequências de agir sem reflexão estão representadas pelas práticas de desmatamentos, da destruição dos ciclos hidrológicos, do empobrecimento e degradação do solo, da contaminação dos mananciais de água, dos alimentos e da perda das espécies, tudo embalado num contexto de aquecimento global.
A humanidade precisa de alimentos, mas é necessária uma expansão desenfreada das fronteiras agrícolas?
Há outras soluções?
Um relatório da FAO aponta que 33% dos solos mundiais estão degradados. A erosão, tal qual acontecia na área do Projeto Refloresta, elimina entre 25 a 40 bilhões de toneladas de solo por ano no mundo. Outros resultados da degradação é a salinização, solos compactados e acidificados.
Sem falar na contaminação.
Em meio a este cenário preocupante surgem ideias novas, que buscam fazer com que o solo se recupere ao longo dos anos.
Processos naturais dentre eles aqueles conhecidos como sistemas agroflorestais indicam um caminho. Nessa proposta, sistemas de produção agrícola ou pecuária consideram as árvores em seus projetos e sugerem manejos fundamentados na sucessão das espécies. Tudo conforme a própria natureza faz.
Buscam oferecer condições à recuperação da terra, como o acúmulo de matéria orgânica necessária à geração de um microambiente saudável, plantando espécies diversas de árvores junto com alimentos, dentre eles a mandioca, a banana e outros alimentos. Estes são colhidos enquanto as árvores crescem.
Nessa diversidade, o sistema vai tornando o solo melhor e produtivo de forma contínua, até que chegue a época de aproveitamento da madeira. Com múltiplas espécies, o sistema fica equilibrado e menos sujeito às pragas. Solos de qualidade podem produzir mais, facilitam a utilização de água e de nutrientes pelas plantas. O manejo certo do solo também leva à uma melhor qualidade da água e do ar, por causa de redução da erosão.
Por enquanto, os sistemas agroflorestais têm sucesso em pequenas áreas, porém já há projetos concretos que levam o conceito para grandes áreas, por exemplo, a Fazenda da Toca, no estado de São Paulo
Há diversos fundamentos nessa direção, normalmente ligados à Permacultura, à Agrofloresta, à Agricultura Regenerativa e à Agroecologia.
Temos também outro conceito e experiência: a Agricultura Sintrópica! Essa lida com a recuperação do ambiente pelo seu uso, com a formação de solo, a regulação do micro-clima e o favorecimento do ciclo da água.
Na Sintropia trabalha-se a favor da natureza e não contra ela, associa-se cultivos agrícolas com florestais, recupera-se os recursos ao invés de explorá-los e incorpora-se conceitos ecológicos ao manejo de agro ecossistemas, em linha com os chamados sistemas agroflorestais.
Esse tipo de agricultura é praticada por Ernst Götsch, um agricultor e pesquisador suíço que criou o conjunto de princípios e técnicas que compõem a Agricultura Sintrópica. A área que ele cuida dessa maneira, na Bahia, é um exemplo vivo dessa prática.
Götsch desenvolveu uma agricultura que concilia produção agrícola e recuperação de áreas degradadas, baseada em processos que mimetizam a regeneração natural e os processos sintrópicos da vida no planeta.De maneira simplificada poderíamos dizer que a entropia caminha do complexo para o simples enquanto que a sintropia progride do simples para o complexo.
São muitos os esforços dessa gente que pensa, formula e pratica técnicas sustentáveis.
Que eles nos inspirem sempre, reforçando em nós a lucidez sobre a verdade bíblica: somos apenas hóspedes e estrangeiros nessa terra.
Abençoada terra!