Quando o desafio de reflorestar me trouxe uma grata ironia do destino - The Way Notes

Quando o desafio de reflorestar me trouxe uma grata ironia do destino

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Adquirir mudas nativas florestais foi o próximo desafio enfrentado em nosso objetivo de recuperar aquela parte do sítio.

Depois de isolar toda a área com boas cercas de arame farpado e ter preparado o terreno entre as curvas de nível para o plantio, começou a tarefa de saber onde encontrar as mudas de árvores nativas para o reflorestamento que faríamos.

Tínhamos algumas notícias sobre outras formas de se iniciar um reflorestamento sem que fosse utilizada uma plantação massiva de mudas, por exemplo, sobre uma técnica conhecida como Regeneração Natural com Manejo – Nucleação.

Nessa técnica, são formados núcleos que favorecem a formação de uma vegetação secundária, que vai surgindo, crescendo e se expandindo a partir de pontos escolhidos na área e acelerando o processo de sucessão natural.

Ilda plantando mudas na reserva

Esses núcleos podem ser começados por meio do plantio de sementes de espécies nativas ou de algumas mudas de espécies pioneiras. Podem começar também pela colocação, no lugar escolhido para formar o núcleo, de parte do solo trazido de matas nativas próximas, que trazem consigo um banco de sementes. Também se colocam poleiros para que as aves cumpram o papel de depositar sementes na área do núcleo, dentre outras possibilidades.

Assim, naturalmente, ao longo dos anos, a vegetação vai se formando nos diversos núcleos e a partir deles tomando conta do lugar. Usar algumas das técnicas ou uma mistura de todas elas é também possível.

Pareciam-nos boa estas alternativas, meios naturais de se deixar a vegetação surgir e crescer, embora num ritmo mais lento.

Todavia, o nosso projeto oficial junto aos órgãos ambientais estava estabelecido segundo as normas que pediam o plantio de mudas, além do que o banco de sementes era muito pobre naquele terreno e com pastagens há muito tempo.

Minha filha Larissa na futura reserva

Como previsto, caberia a nós escolher árvores de oitenta espécies diferentes, tanto para serem plantadas ao longo da área de preservação permanente que é mais úmida como também na outra parte da reserva florestal.

Então, onde encontrar mudas de tantas espécies?

Que tipos, que formatos e que tamanhos de mudas?

Quanto custariam? Como transportar e plantar?

Estávamos com muitas dúvidas e pouco conhecimento!

Viveiros de Mudas Florestais Nativas

Pesquisando pela Internet, encontramos um mapeamento de viveiros de mudas nativas para São Paulo, estado do Brasil onde está localizado nosso sítio.

Encontramos no site da CATI – Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, uma página com mapas, que estavam organizados por bacias hidrográficas do estado e correspondentes municípios que as formavam. Esses mapas apontavam as cidades onde havia viveiros de mudas florestais.

A pesquisa era completa e mostrava os endereços dos escritórios regionais e o catálogo de viveiro de mudas nativas disponíveis para o estado de São Paulo.

Descobrimos um viveiro na cidade de Fernandópolis, cerca de 60 quilômetros do sítio em Floreal. Fomos para lá eu e o meu compadre Agenor Nucci, que me ajudava em tudo e quem, efetivamente, conhecia o campo.

Eu e o Agenor na chegada das mudas.

O VIVEIRO DE MUDAS NATIVAS

Ao entrar no viveiro de mudas vi diante de mim aquilo que só estava nos projetos e planos: uma infinidade de mudas vivas, verdes, de todas as espécies, à espera de crescerem.

Sem conversar com alguém ainda, apenas caminhei pelos imensos corredores que intercalavam os úmidos canteiros, admirado com tanta diversidade de mudas, todas muito bem cuidadas!

O frescor do lugar, o verde e o silêncio daquele viveiro levaram-me à essência do que eu buscava e fizeram crescer em mim a vontade de proporcionar àquelas mudas uma possibilidade de crescerem e frutificarem, de serem vida e proporcionarem vida à flora, aos pássaros e aos animais lá do sítio.

Sonho de ver essas mudas trazerem abundância de água e de protegerem as margens dos nossos córregos e lagos.

As sementes que faltavam lá no sítio pareciam abundar aqui, porque germinavam em todo o canto. Na verdade, as sementes eram colhidas com técnicas muito criativas nos campos e matas, armazenadas e colocadas para germinarem. Começamos assim a descobrir os detalhes do mundo que formava mudas das árvores nativas: os viveiros florestais.

Sim, era possível repovoar um lugar com verde!

AS MUDAS NATIVAS

A primeira ótima notícia que tivemos era que, sim, havia disponibilidade de mudas nas espécies demandadas em nosso plano, tanto em quantidade quanto em diversidade de espécies.

Excelente!

As mudas nos seriam fornecidas em tubetes, ou seja, naqueles recipientes em formato cônico, normalmente com capacidade entre 100 ou 290 cm³ de substrato, onde as sementes germinam e crescem ou onde as mudas pequeninas germinadas em canteiros são colocadas para crescerem.

Tubetes ou futuras árvores

Os tubetes são enchidos com um substrato, normalmente composto, por exemplo:

  • vermiculita, terra de subsolo e matéria orgânica(bagaço de cana, casca de eucalipto e pinos decompostos);
  • terra de subsolo, mais esterco curtido e areia;
  • casca de arroz calcinado;
  • proporção de 1/3 de casca pinus semi decomposta e moída; 1/3 de humus minhoca; e 1/3 de casca arroz carbonizada;

CUSTO DAS MUDAS E SOS MATA ATLÂNTICA

As mudas teriam um custo não suportado por nós para aquele momento.

Então, paramos para pensar e dialogando com o responsável pelo viveiro, ele nos perguntou se tínhamos consultado a Fundação SOS Mata Atlântica para verificar a possibilidade de receber mudas em doação.

Uau! Então tinha esta possibilidade? Uma ajuda seria muito bem vinda!

Futura Floresta

 

Não tínhamos qualquer referência de como chegar à SOS Mata Atlântica, mas o dono do viveiro tinha as coordenadas. Na verdade, pareceu-nos que ele já fazia parte de um convênio que cuidava do trâmite necessário. Combinamos com ele para nos ajudar a obter essa doação.

Enquanto ele trabalhava na papelada, interessei-me por ver o que seria a SOS Mata Atlântica, a SOSMA. Já tinha ouvido referências do trabalho que realizavam, mas sempre à muita distância.

E foi ai que eu descobri um mundo de apoio voltado para a recuperação da mata atlântica.

Observei que a Missão da SOSMA era “Inspirar a sociedade na defesa da Mata Atlântica” dentro da visão de “Transformar valores e atitudes em prol da Mata Atlântica”.

Gostei muito dos valores ali mencionados, principalmente dois deles dizendo:

  • “a responsabilidade da preservação é de toda a sociedade, com ações praticadas no seu dia-a-dia.” 
  • “a sensibilização de um indivíduo é a base da mobilização coletiva.”

Pronto, estavam sintonizados, nossos objetivos e os da SOSMA. Claro que em dimensões infinitamente menores no nosso caso, mas no mesmo rumo.

O responsável pelo viveiro providenciou toda a papelada. Foi elaborado um Projeto Técnico de Reflorestamento (mais um, além daqueles entregues aos Órgãos Ambientais) e assinamos contrato de doação de 14.310 mudas de árvores com a Fundação SOS Pró-Mata Atlântica.

Os recursos financeiros vinham de um Programa de Fomento Florestal, que se materializava pela Internet.

Bom, compromissos assinados e mudas disponibilizadas, tudo certo!

Estávamos felizes e encontramos, para o transporte das mudas, um único caminhão disponível: um caminhão boiadeiro.

Ironia das ironias!

Um caminhão que costumeiramente levava gado para lugares onde houve derrubadas da mata para formação de pastagens e agora levava a mata de volta ao nosso pedaço de pastagem.

Carregamos parte das mudas no caminhão e lá fomos para o sítio, cheios de verde, de alegria e de esperança, estrada afora. Desafio seguinte: plantar e cuidar!

Gilson Marques

Gilson Marques

“Gilson Marques, nasceu em Floreal, e cresceu no seio de uma família numerosa, com quatro irmãs e um irmão. É casado e tem dois filhos adultos. É formado em Administração de Empresas.”

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O AUTOR:

“Gilson Marques, nasceu em Floreal, e cresceu no seio de uma família numerosa, com quatro irmãs e um irmão. É casado e tem dois filhos adultos. É formado em Administração de Empresas.”

Gilson Marques

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