Porque assumir os compromissos com a reserva foi meu maior progresso - The Way Notes

Porque assumir os compromissos com a reserva foi meu maior progresso

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Depois de cumpridas todas as exigências, de apresentar projetos e formalizar registros, chegaram para assinaturas alguns compromissos e verdadeiros juramentos.

Esses formulários registravam os mínimos detalhes de todas as responsabilidades que eu deveria assumir junto aos órgãos competentes, se quisesse intervir na área.

Eram três documentos, que descrevo agora de maneira muito resumida: o primeiro era um Termo de Compromisso para Recuperação Ambiental e registrava a promessa de plantar 2.102 mudas, divididas em 80 espécies, conduzir tratos culturais e combater formigas dentre outras demandas.

O segundo compromisso era um Termo de Responsabilidade de Preservação da Reserva Legal e requeria o registro da reserva legal no cartório de registro de imóveis, especificando na escritura a área apartada para isso.

O último documento chamado de Termo de Compromisso de Recuperação Ambiental, determinava isolar área e promover o seu enriquecimento florístico em 6 meses, implantando 930 mudas na reserva legal.

Confesso que suei frio, não diante das árvores que teria que plantar, mas sim por conta dos termos desses documentos.

As primeiras “testemunhas” da minha floresta

Lendo eles, me passava a ideia de que eu tinha feito algo muito errado e agora devia jurar que iria me emendar e fazer tudo conforme os cânones previstos, nos mínimos detalhes e sob as varas da Lei.

Só que não, eu pensava! Eu não tinha causada dano algum à natureza, não era réu em processo nenhum relacionado ao meio ambiente e estava naquela empreita de boa vontade e com o melhor dos objetivos, apenas isso.

De livre e espontânea vontade eu tinha me dirigido às autoridades, exposto um problema e buscado apoio para, às minhas custas exclusivamente, começar aquele que seria um longo trabalho para tentar recuperar o ambiente de uma pequena área.

Por acaso era uma área de proteção permanente e até por conta dessa característica é que eu me movia, por ver uma possibilidade de preservar a água que ali passava, proteger o córrego maior onde ela desaguava e levava consigo toda a areia da erosão que se formava com os desbarrancamentos de chuva após chuva.

O cânyon que me motivou a reflorestar

Então, não era um cortador ilegal de árvores que estava à frente das autoridades ambientais, antes talvez um sonhador, inconsequente, até por não saber onde estava se metendo.

Deixei de pensar nisso, parei de ler as letras miúdas daqueles compromissos com tantas ameaças, apontando multas aplicáveis caso seus termos fossem descumpridos, fóruns onde seriam discutidas as questões nas infidelidades junto à autoridade ambiental e etc.

Assinei os papeis. Se era assim que a Lei pedia, assim eu faria, ponto final.

Cerca de quarenta dias depois a autorização para execução do projeto chegou.

Agora eu estava formalmente autorizado a promover uma intervenção em Área de Preservação Permanente e a construir 5 represas para fins de combate de processo erosivo, estando autorizado também a promover o corte das 12 árvores que existiam às margens da erosão. Cabia-me, como decorrência, sistematizar o solo e construir tudo com boas técnicas para evitar novos efeitos erosivos. Isso estava escrito no documento de autorização.

Dois anos e cinco meses após o impulso inicial, finalmente estava liberado para seguir adiante!

O que fazer, agora?

Início dos trabalhos

Depois dos Compromissos, as máquinas

O primeiro passo após as assinaturas dos  compromissos foi conhecer quem tivesse máquinas apropriadas, habilidades e conhecimentos para o que precisava ser feito na área. Pergunta daqui, pergunta dali, encontramos na vizinha cidade de Magda, os irmãos Possetti, que há muito trabalhavam em serviços do gênero e eram bem recomendados.

Eles analisaram os projetos, discutiram os aspectos técnicos com o engenheiro, tomaram conhecimento dos compromissos que assinamos, foram combinados os valores que seriam cobrados e o trabalho foi contratado.

Eles e suas máquinas chegaram no tempo da seca, época que ajustamos.

Então, pedindo permissão máxima à mãe natureza, os doze exemplares das velhas árvores e dos bacuris foram cortados, sob nossa promessa pessoal de multiplicar seus descendentes naquele mesmo pedaço de chão.

O terreno foi sendo arrumado, os grandes barrancos do cânyon sendo desbastados e os espaços para os barramentos e as represas foram surgindo, um após o outro, no total de cinco bacias de tamanho médio para acúmulo da água.

A erosão cortava o fundo de duas colinas, uma a cada lado do grande buraco que ia terminar no córrego da Gabiroba. Um pouco atrás desciam outras ladeiras também.

Esse desenho do terreno levava muita água da chuva para o vale onde a erosão tinha se formado, então essas encostas também precisavam ser tratadas. E elas foram sendo arrumadas ao tempo em que as represas eram feitas.

Represa sendo formada

Acompanhando os degraus de desnível do terreno, grandes e altas curvas de nível foram sendo construídas no sentido transversal das encostas, começando lá em cima e cortando-as no seu sentido lateral, como se fossem grandes anéis a formarem terraços para a contenção das águas que desciam pelas colinas nas épocas das chuvas. Algumas caixas maiores para contenção de água também foram feitas para ajudar a segurar as enxurradas.

Ao lado das bacias, que iam sendo escavadas para a formação das represas no buraco da erosão, foi aberta uma longa passagem, como se fosse uma rua, para permitir que as águas das enchentes escapassem por ali e não transbordassem as represas nas chuvas.

Represas da reserva

Tudo foi executado com o máximo zelo para seguir à risca o propósito de consertar e não provocar novas erosões. O terreno era arenoso, fato que levava a se fazer um trabalho muito bem feito na construção dos aterros.

Para o escoamento d’água de uma represa para a outra, foram providenciados canos resistentes e especiais, que passavam por debaixo de cada um dos aterros e levava água de uma represa para a seguinte. Tudo conforme a melhor técnica que então se conhecia.

Bem, após muitas horas de máquinas esteiras, de retroescavadeiras e vai e vem de caminhões basculantes, o terreno ficou limpo, os aterros dos barramentos e as curvas de nível feitas.

Toda a área foi isolada com boas cercas de arame farpado e a terra, entre as curvas de nível, preparada para o plantio.

Passo seguinte: mudas das árvores, como obtê-las?

Gilson Marques

Gilson Marques

“Gilson Marques, nasceu em Floreal, e cresceu no seio de uma família numerosa, com quatro irmãs e um irmão. É casado e tem dois filhos adultos. É formado em Administração de Empresas.”

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O AUTOR:

“Gilson Marques, nasceu em Floreal, e cresceu no seio de uma família numerosa, com quatro irmãs e um irmão. É casado e tem dois filhos adultos. É formado em Administração de Empresas.”

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