Porque reflorestar uma área degradada passou de um problema a um bom objetivo na minha vida

Comparação de tamanhos entre o canyon e um adulto

No inicio dos anos 2000 resolvi encarar o desafio de criar uma pequena zona de proteção ambiental. Essa ideia surgiu quando adquiri uma área de 10 alqueires no município de Floreal, noroeste do Estado de São Paulo, a 524 quilômetros da capital do estado.

Nos fundos dessa área havia uma erosão que aumentava ano após ano e no “pequeno canyon” que surgia com os desbarrancamentos corria água em direção a outro córrego maior, conhecido como Córrego da Gabiroba.

Ao redor desse canyon e do Gabiroba havia apenas pastagens degradadas. O capim rasteiro chegava até às margens e o pisoteio do gado contribuía para o aumento do buraco e do assoreamento do pequeno fio d’água.

A paisagem desoladora era atenuada pelo fato de que, pelo menos, ainda corria água no meio da área erodida, pouca, mas corria. Essa água brotava cerca de 1 quilometro de distância em uma nascente no sítio vizinho.

Na parte de cima deste meu sítio havia um cafezal, gerador de riquezas no passado, mas pouco produtivo agora e olhando a paisagem, veio à mente que ali um dia a terra teria sido coberta pela Mata Atlântica e que dessa mata, praticamente nada restava, além de alguns tocos de raízes secos voltados para o céu.

Nossos pais, os pioneiros nessas fronteiras, com toda a razão que os motivava, cortaram palmo por palmo da mata, em nome do progresso e da sobrevivência à época.

A luta desses desbravadores, a maioria vinda da Itália, estava fundamentada no pensamento e nas circunstâncias do seu tempo, labutaram e fizeram o que era o melhor para si, suas famílias e a região.

Embora este município esteja a mais de 500 quilômetros do litoral, a cobertura original de Floreal, pelos registros do SOS Mata Atlântica era de 98% da sua área de floresta. Os dados indicam que hoje quase nada sobrou e que restam apenas 753 hectares, equivalentes a 2% da área de 227 km2 que lutam para sobreviver.

Mapa do SOS Mata Atlântica sobre a região de Floreal. Pontos verdes indicam o que ainda resta de floresta na região.

Proporções como essas devem prevalecer nas centenas de outros municípios onde existiu a mata atlântica original.  Essa é a realidade daqui e que vai se instalando em outras regiões do país, pois os mecanismos que a causaram, com poucas mudanças, continuam em ação.

Do noroeste do estado de São Paulo eles alcançaram o Mato Grosso, dali rolaram para Rondônia e hoje fazem acontecer no próprio Amazonas e Pará.

A floresta, antes dizimada pelo machado e fogo, agora cai com equipamentos mais avançados. E vai dando lugar à soja, ao gado – e a marcha continua.

Diante deste lamentável quadro nacional para as florestas, muitas perguntas dançaram em minha mente:

  1. O que fazer neste pedaço de terra, devastado e erodido e agora sob minha responsabilidade?
  2. Vale a pena fazer o que aqui e por que pensar nisso?
  3. Qual papel resta-me desempenhar neste minúsculo espaço de terra, eu que sempre fui da área urbana?
  4. Recuperar o terreno? Recompor a flora? Restaurar o ambiente?
  5. Que diferença fará para esse país gigante e desmatado?

Um dia indo ao trabalho na linha verde do metrô da cidade de São Paulo, dentro do vagão lotado que vai do Paraíso à Consolação meu pensamento percorria as imagens das fotos daquela erosão e das decisões que precisavam ser tomadas.

Que capacidade teria eu, um típico ser dos escritórios da Avenida Paulista, em manejar um pedaço de terra? Com que conhecimento e apoiado no que?

Haveria uma chance de pegar carona no sugestivo nome do trajeto Paraíso – Consolação, sair de uma situação desoladora e chegar a um arremedo do que teria sido o “paraíso” naquelas bandas?

Então, ao contrário do que indicava o senso comum – optei por tentar dar um aproveitamento máximo de cada palmo da terra e assim começou a surgir minha opção pelo reflorestamento.

Num primeiro momento recuperar e por em bom estado o que se estava degradado. Passo seguinte, dar um novo começo à vegetação nativa e tentar restituir o que antes existiu naquele pedaço de chão.

Ainda que dependente dos meus precários conhecimentos, surgia a opção por uma chance à natureza.

No pensamento algo assim: meus pais, meus sogros, meus antepassados, fizeram o que de melhor lhes foi ensinado ou requerido à sua época. Com as melhores intenções desmataram e queimaram e com isso: alimentaram famílias e produziram riquezas. Agora, como descendente, ainda que numa insignificante extensão daquelas terras, eu os representaria numa pequena devolução à mãe natureza.

Passados 15 anos, algo foi feito. Alguma coisa deu certo, outras nem tanto. As aventuras e desventuras desse projeto são o que contaremos agora.

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O AUTOR:

“Gilson Marques, nasceu em Floreal, e cresceu no seio de uma família numerosa, com quatro irmãs e um irmão. É casado e tem dois filhos adultos. É formado em Administração de Empresas.”

Gilson Marques

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