Colocando meu plano em prática: Recuperação Florística e Reflorestamento - The Way Notes

Colocando meu plano em prática: Recuperação Florística e Reflorestamento

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Já sabendo o que eu precisava para por em prática meu plano, o próximo passo era a construção de dois projetos: um sobre a recuperação florística e outro para o reflorestamento, ambos demandados pelas leis em vigor.

Por conta dos muitos requisitos, os projetos ficariam a cargo do engenheiro agrônomo especializado e junto com ele os custos correspondentes, essa conta era feita sempre, pois os pesos envolvidos sempre eram levados à balança que media a sorte do projeto.

Gastar a troco do quê?

Por quê?

Fazia sentido?

A verdade é que esse custo era inevitável, era impossível a um leigo no assunto compreender a infinidade de detalhes técnicos e as expressões típicas da botânica contidas nas Resoluções da Secretaria do Meio Ambiente vigentes à época, que atendiam pelos números 58 e 21, ligadas à 47, e assim por diante em uma sucessão de conexões intermináveis.

Flores da Reserva

Plantar mato não era tão simples assim, como pensava aquele aprendiz de reflorestador. De forma alguma! E se ele quisesse seguir adiante essa conta tinha que ser paga.

Era necessário definir uma quantidade adequada de espécies a serem implantadas à vista do tamanho da área. Por exemplo, para projetos de até 1 hectare,deveriam ser eleitas 30 espécies distintas e assim sucessivamente. Caberia ainda observar as peculiaridades locais e regionais no uso das espécies nativas e escolher de maneira criteriosa.

Passado o susto inicial e procurando ler as justificativas das exigências, foram sendo conhecidas as preocupações que fundamentavam aquelas normas. Dentre elas, a constatação de que implantações de espécies semelhantes, geralmente espécies de ciclo de vida curto e a utilização de poucas espécies arbóreas, acabavam resultando em baixa diversidade e consequente declínio do reflorestamento ao longo do tempo. Por essas razões, nenhuma espécie a ser utilizada no projeto deveria superar 20% do total do plantio.

Ou seja, nenhum tipo poderia ultrapassar a quantidade de 20% do total de árvores plantadas e, com uma boa diversidade, se estaria garantindo a manutenção da reserva por um tempo maior e contribuindo para a sobrevivência da própria reserva com um todo.

Plano em prática

As normas recomendavam, também, a utilização de espécies ameaçadas de extinção ou atrativas para a fauna local, devendo elas ser escolhidas dentre dois grupos ecológicos: Pioneiras e não Pioneiras, num limite máximo de 50% para cada um deles.

Sim, as coisas faziam sentido, embora custosas e escritas de maneira cifrada para aquele pobre sonhador e candidato a reflorestador, alheio à aridez daqueles termos técnicos insondáveis, tais como “floresta ombrófila”, semidecidual”, “espécies zoocóricas”, e por aí afora!

Distante também, por desconhecimento ou por falta de ação, de outras possíveis formas de recuperação de áreas. Ele desconhecia opções mais práticas e decorrentes de experiências vivas, não vindas de gabinetes técnicos onde eram geradas as exigências com as quais lidava agora. Muita formalidade escrita, faltando um contexto prático, uma ajuda e orientações simples e efetivas.

Tipos de Folhas

Bem, com muita vontade foi sendo superado aquele emaranhado e finalmente assinados os projetos, todos dentro das especificações requeridas e mais: anotando que a área seria isolada, o solo seria devidamente preparado, haveria controle inicial de competidores e nos 18 meses iniciais as formigas seriam controladas, capinas e coroamentos seriam feitos.

Acompanhava os projetos uma relação das espécies nativas selecionadas para o plantio de recuperação, respeitadas as características da área a ser reflorestada. A lista era bem detalhada, apontando o nome vulgar para cada árvore pretendida, o nome científico, se era pioneira, secundária ou clímax,sua altura média e o tipo de folhagem, além da época de flor e fruto.

A lista continha 80 espécies nativas, especificando quais eram indicadas para solos úmidos e quais eram de rápido crescimento.

Sinceramente,aquele aprendiz de reflorestador achava ser demais as minúcias descritas tim-tim por tim-tim. Bom, ao menos ele teve acréscimos nos seus conhecimentos.

Descobriu, por exemplo, que o nome científico do Açoita Cavalo era Pterocarpusviolaceus. E essa era da classe pioneira!

Açoita Cavalo

Jatobá, por sua vez, era (e ainda o é!) conhecido oficialmente como Hymenaeacourbaril! A Mamica-de-porca tem folhas tipo demidecídua! Já na Farinha-seca a folhagem é do tipo decídua!

O Ipê-roxo floresce entre maio e agosto!

Ipê Roxo

E o Ingá-ferradura tem frutos entre julho e janeiro!

Então, o mergulho nas características das árvores, de como cresciam, perdiam suas folhas, produziam seus frutos foi se revelando uma experiência útil e agradável. Era bom entrar na intimidade das espécies que a natureza disponibilizava aos seres humanos e à fauna que, tão desastradamente,vem se extinguindo ao longo do tempo.

Conhecer isso era compreender a harmonia existente entre as espécies e os indivíduos de cada uma delas. Umas crescem rapidamente, entretanto logo morrem. Em suas sombras, enquanto crescem vigorosamente vão surgindo aquelas outras de crescimento mais lento, porém duradouras.

As pioneiras morrem cedo e oferecem sua madeira e folhas para o solo, gerando com demais elementos toda a matéria orgânica indispensável para o ambiente formador de vida, que se fertiliza a ponto de, lentamente,possibilitar a regeneração dos solos degradados.

Desaparecem de forma mais rápida essas árvores que crescem logo, mas deixam solos mais macios, entremeados por suas raízes. Elas alimentam esse solo com seus nutrientes e deixam a vida continuar com as espécies mais resistentes.

Floresta “sendo criada”

Exatamente como precisava aqueles solos nos quais se tentava fazer um novo verde. Por hora, as espécies diferentes estavam apenas no papel, naquela lista que tão cuidadosamente ia sendo elaborada, digitada, formatada, impressa e assinada.

A área que receberia as mudas estava esvaziada de vegetação e nutrientes e era pobre.Olhar para aquele vazio e para a lista de espécies escolhidas enxergando, na mente e nos sonhos, todas as árvores já crescidas e grandes, frondosas, servindo de abrigo e alimento aos pássaros e aos animais,a água brotando e correndo por entre elas, era o que valia a pena!

Talvez o espaço de vida restante do reflorestador não permitisse ver essa realidade de árvores, água e seres vivos naquele pedaço de chão, todos vivendo em harmonia.

Meu filho Felipe plantando as primeiras mudas

Poderia esse cenário morar apenas nos seus ideais e naqueles de outros sonhadores, mas o que se transforma em realidade sem antes ter sido um plano arquitetado na imaginação?

Vale sonhar?

Sonhar e caminhar?

Esses eram os pesos que faziam a diferença na balança dos cálculos e das decisões e que levavam o projeto adiante!

Será que o aprendiz de floresta chegaria lá?

Gilson Marques

Gilson Marques

“Gilson Marques, nasceu em Floreal, e cresceu no seio de uma família numerosa, com quatro irmãs e um irmão. É casado e tem dois filhos adultos. É formado em Administração de Empresas.”

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O AUTOR:

“Gilson Marques, nasceu em Floreal, e cresceu no seio de uma família numerosa, com quatro irmãs e um irmão. É casado e tem dois filhos adultos. É formado em Administração de Empresas.”

Gilson Marques

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